Reunião de vazanteiros na sede da Associação de Vazanteiros de Itacarambi - MG, 2015
por Sara Gehren
Placa no quintal da sede da Associação de Vazanteiros de Itacarambi - MG, 2015.
por Sara Gehren
Vazanteiros da Baixada Sanfranciscana
Os vazanteiros são um povo com forte influência indígena, quilombola e ribeirinha que vive historicamente às margens do Rio São Francisco, construindo uma intrincada relação com seus ciclos e dinâmicas. Esse profundo conhecimento influencia sua cultura, seus costumes, suas técnicas de cultivo. O rio, mais que um corpo de água, é visto e entendido como uma entidade, um lar, um parente.
O São Francisco é um dos rios mais importantes do país. Possibilita o transporte de recursos e pessoas, a irrigação para agricultura e pecuária, além de ser responsável por dois terços da água doce disponível para o Nordeste. Com as políticas de avanço do capital empresarial, aumentam também os impactos ambientais sofridos pelo Velho Chico. Com isso, são afetados os modos de vida das populações vazanteiras.
Estudos mostram que a ocupação humana do rio São Francisco remonta pelo menos dois mil anos, chegando a oito mil anos de história. Com a chegada dos diversos povos e culturas que constituem o Brasil atual, essa ocupação foi se diversificando, mas ainda construindo em cima desses milênios de saberes acumulados. Diante dessa diversidade, não é incomum a identidade vazanteira conviver simultaneamente com outras, como é o caso dos moradores do Quilombo da Lapinha, que se identificam como quilombolas vazanteiros.
Saiba mais sobre os Vazanteiros e seus modos de agricultura neste documentário:

"Conversando com o Rio" - Documentário
Realização: Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas
 Fonte: Canal do Youtube do Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas
https://youtu.be/q2R8Tg9qS0Y

Comunidade Pau Preto
Matias Cardoso - MG
Menina dança no Rio São Francisco ao entardecer.
por Sara Gehren I 2015
Vazanteiro faz reparos em sua rede de pesca.
por Sara Gehren I 2015
A história de resistência dos vazanteiros de Pau Preto remonta, como é lugar comum às comunidades tradicionais do Brasil, ao fim da década de 40 e se intensifica durante a Ditadura Militar e seu projeto para o campo brasileiro. O encurralamento dos vazanteiros gerado pelo avanço do capital empresarial foi confrontado no fim da década de 1970, quando ocorrem o corte de recursos governamentais ao setor agropecuário e as enchentes de 1979, as piores da história de Minas Gerais. No mesmo período, os vazanteiros começam a retomar seu modo de vida e o território ocupado por eles por mais de 400 anos, sobretudo através da utilização da ilha de Pau Preto.
Em 1998, se inicia um novo ataque ao povo de Pau Preto. O governo de Minas Gerais, através do Instituto Estadual de Florestas, cria o Parque Estadual Verde Grande, com desapropriação de uma área de 25.000 hectares que engloba o território vazanteiro. Começa uma nova luta pela permanência no território. A dificuldade de negociação com IEF atinge um impasse com a reivindicação da identidade vazanteira pelas comunidades da região.
A partir de 2007, ainda sob ameaça de despejo, os vazanteiros de Pau Preto começam uma negociação pela regularização de seu território. Para isso, organizam-se entre si e com outras comunidades da margem do São Francisco, através da articulação Vazanteiros em Movimento, além de buscar parcerias de entidades e órgãos externos. Essa luta avança com a aprovação da Política Estadual para o Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais de Minas Gerais, instituída pela Lei 21.147, de 2014, que em seu artigo 3º descreve:  
“É objetivo geral da política de que trata esta Lei promover o desenvolvimento integral dos
povos e comunidades tradicionais, com ênfase no reconhecimento, no fortalecimento e na garantia
de seus direitos territoriais, sociais, ambientais e econômicos, respeitando-se e valorizando-se sua
identidade cultural, bem como suas formas de organização, relações de trabalho e instituições”.
Desde então, foram criadas propostas de recategorização do Parque Estadual Verde Grande e pela redefinição de seus limites, buscando vincular a proteção ambiental à manutenção dos modos de vida dos vazanteiros e garantindo a permanência das comunidades lá presentes. Mas ainda nada foi oficialmente decidido.
Em julho de 2011, as famílias vazanteiras retomam e simbolicamente autodemarcam a área conhecida como Fazenda Catelda, onde seguem até hoje. Foi o primeiro passo concreto na direção da regularização do território vazanteiro.

"Vazanteiros em Movimento - Auto demarcação da RDS de Pau Preto" - Documentário
Realização: Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas
 Fonte: Canal do Youtube do Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas
https://youtu.be/k4fObaJMwS0

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