Região próxima à Comunidade Vereda, Quilombro de Praia em Matias Cardoso - MG, 2015.
No dia de uma retomada de território quilombola, houve uma grande celebração no Quilombo de Praia, com muita alegria, comida, reza e samba de roda. Mas, antes de tudo, foi feita uma grande roda com todos os presentes, adultos e crianças. No centro dela, foram colocados diversos itens, até se formar um grande arranjo do que mobiliza a comunidade e simboliza a vida, a fé, a organização coletiva e a luta. Havia uma enxada, foice, facão, garrafa d'água, côco, milho, limão e várias fotografias.
Nesta imagem, temos apenas uma parte importante desse todo. A terra com arroz é o foco da luta porque possibilita toda a vida. A Bíblia é a representação da fé e espiritualidade que a todo momento aparece como combustível da luta e da
esperança. Qualquer pessoa que queira conhecer e entender verdadeiramente os Brasis dentro do Brasil, precisa levar a sério a dimensão da religiosidade e da espiritualidade em suas várias facetas e atravessamentos em nossa cultura.
esperança. Qualquer pessoa que queira conhecer e entender verdadeiramente os Brasis dentro do Brasil, precisa levar a sério a dimensão da religiosidade e da espiritualidade em suas várias facetas e atravessamentos em nossa cultura.
E ainda, a fotografia de Mãe Piana, uma pessoa mais velha e de extrema importância para a comunidade. Na cultura quilombola, os mais velhos têm papel de destaque. Não são desconsiderados improdutivos ou inúteis, como comumente acontece na cultura ocidental capitalista. Não pra menos, Piana é evocada no centro da celebração. Crispiana Barbosa Lima, Mãe Piana ou Mãe de Pegação, mulher de 92 anos, parteira que trouxe ao mundo, com suas mãos, mais de 2.000 pessoas.
Em 2016, Mãe Piana recebeu a Medalha Maria da Cruz, homenagem entregue pelo governador de Minas Gerais a personalidades femininas reconhecidas por sua valorosa contribuição cultural, social e econômica. Na ocasião, Piana disse: “Em 1952 fiz meu primeiro parto. Aprendi sozinha e já fiz mais de 2 mil partos desde os meus 23 anos. Nunca imaginei ver o governador aqui e me premiar por essa lembrança de vida que tenho."
