Região próxima à Comunidade Vereda, Quilombro de Praia em Matias Cardoso - MG, 2015

É possível constatar, nos últimos anos, uma crescente popularização do debate sobre comida e estilo de vida saudáveis. Bem como uma diversificação e ampliação da oferta e procura de alimentos orgânicos e - em um termo mais pop - “fitness”. São incontáveis os perfis nas mais diversas redes sociais que falam sobre o assunto, compartilham dicas, divulgam produtos e também lucram com ele. Entretanto, há um problema nesse fenômeno, uma espécie de hiato, de desconexão. No documentário Cochichos de Cozinha - afeto e política na mesa, Vanessa Schottz - professora do Curso de Nutrição da UFRJ Macaé e integrante do GT Mulheres da Articulação de Agroecologia Serramar - explica o problema muito bem:
“Como é que a partir da comida e de quem consome, a gente consegue comunicar as lutas? Porque uma das coisas que a gente percebe é que muitas vezes o público consumidor se interessa pela qualidade daquele alimento, muito relacionado à questão de saúde, mas não sabe nada do que está acontecendo, de toda luta que é, da história que é para chegar até ali (na feira). [...] Para se ter comida de verdade, comida de qualidade é preciso apoiar as várias lutas, a luta pela soberania alimentar que envolve a luta pela terra, que envolve a luta pela semente, que envolve a luta pela água. Porque a gente, muitas vezes, vê que o mesmo consumidor que vai lá numa feirinha, compra aquele produto, compra esse alimento que tem tanta luta para chegar até ali, ele é o mesmo que não vai se sentir... não vai apoiar uma luta pela terra, não vai entender que aquelas pessoas, aquelas agricultoras e agricultores vem de uma trajetória de muita luta que precisa de apoio. Então, a gente entende que a comida pode criar essa comunicação e ir conectando consumidores e produtores no sentido de reforçar que essa luta pela terra também é uma luta que está relacionada com a gente ter direito a comer”.
O movimento crescente citado anteriormente falha quando dissemina o princípio da alimentação saudável a partir de uma perspectiva exclusivamente individual, desconsiderando todo o processo social envolvido na produção desses alimentos orgânicos, dessa “comida de verdade”. Sabemos que é a agricultura familiar que alimenta o Brasil e não as grandes monoculturas latifundiárias: 70% de todo alimento que chega à mesa dos brasileiros vêm da agricultura familiar. Mesmo assim, são estes os que recebem menos incentivos governamentais e os que têm menos acesso à terra. Em outras palavras, o direito de comer bem só estará garantido a todos os brasileiros à medida que avançarmos na luta pela água, pelas sementes, pela demarcação dos territórios das populações tradicionais, pela desconcentração de terras. É aqui o caminho para a segurança alimentar.
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