Quilombo da Lapinha, Matias Cardoso - Minas Gerais, Brasil, 2017

Dinda é uma das lideranças do Quilombo da Lapinha. Conversamos com ela debaixo de um pé de umbu, mesma árvore sob a qual nasceu, 34 anos antes.
- Boa tarde, eu me chamo Maria Aparecida, mais conhecida como Dinda, do Quilombo da Lapinha. Nasci aqui debaixo de um pé de umbu. Venho de uma descendência de escravos. Meu avô foi escravo e já sofreu muito aqui nessas fazendas. Inclusive nessa daqui, da onde a gente foi expulso pra ir pra Ilha da Ressaca. E quando a gente entendeu que a gente era realmente descendente de escravo, a gente retomou de novo o território que era nosso e estamos aqui nessa luta em busca de um pedaço de chão.
Foi aqui que meu avô sofreu. Morreu levando essa dor de não saber que esse território era nosso, que fosse demarcado. Mas estamos aí, eu sou neta dele. Meu avô se chama Domingo Carneiro, minha avó se chamava Maria Cândida. E tamo aí nessa luta pra defender essa cor nossa, a cor negra, uma cor que é pra ser valorizada, a identidade nossa de ser quilombola.
Deus sabe da nossa luta, de por que defendemos esse território. Território da onde já saiu muito sangue, muita luta e nem por isso a gente deixou de estar aqui lutando por esse pedaço de chão. Estou aqui hoje, tenho dois filhos e o que eu passo, eu ensino para os meus dois filhos, que é lutar. Lutar pelo seu direito. Lutar pelo seu direito de ser quilombola. Ser quilombola é ter raça, é origem, é brigar pelo que é seu. Então, estamos aqui no Quilombo da Lapinha, desde 2005, lutando por esse pedaço de chão.
Se eu morrer hoje ou amanhã, quero deixar pros meus amigos de luta: que lutem! Lutem pelos seus direitos. Ser quilombola é honrar o que você é. É levar o seu direito. É buscar, é defender sua cor, é defender o sofrimento da sua mãe, do seu pai, dos seus avós, dos seus filhos, de todos aquele que passaram por aqui e que sofreram aqui. Então, hoje eu estou aqui, no Quilombo da Lapinha, mas se Deus me chamar, eu sei que algo de bem eu fiz aqui. É deixar minha história contada e levar pras outras comunidades que estão na luta nossa.
É dizer “Eu sou quilombola, tenho orgulho de ser e vou levar isso até morrer”.

*Entrevista realizada por João Roberto Ripper, Josy Manhães e Laura Mineiro
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